The Raven Cycle: The Raven Boys #1
Autor(a): Maggie Stiefvater
Editora: Schoolastic Press
Titulo no Brasil: Os Garotos Corvos
Ano: 2012
Paginas: 416
IBSN: 0545424925
Inglês nível: A2
“Fate," Blue replied, glowering at her mother, "is a very weighty word to throw around before breakfast.”
Apesar de
ser descendente de uma longa linhagem de médiuns e clarividentes residentes em
Herieta, Virginia, Blue Sargent não foi "abençoada" com as
habilidades que correm no sangue de sua família. Isso não quer dizer que ela
não tenha talentos ela mesma. Blue é naturalmente uma fonte de energia, o que
significa que quando ela está em um local onde existe algum tipo de atividade
ou entidade paranormal, essas criaturas se alimentam da energia extra de Blue,
o que facilita a comunicação entre clarividente e espíritos.
É por
isso que todo ano Blue acompanha sua mãe até o adro de uma igreja tão
abandonada que já não tem mais nome. É lá, na noite antes do dia de São Marcos,
que todos os espíritos daqueles que irão morrer em um ano se reúnem. Blue nunca
os vê ou os sente, isto é, até a contagem deste ano, onde o espirito de um
garoto vestido com o uniforme da escola particular local, Aglionby, aparece bem
embaixo do seu nariz e fala diretamente com ela.
“Aglionby Academy was the number one reason Blue had developed her two rules: One, stay away from boys because they were trouble. And two, stay away from Aglionby boys, because they were bastards.”
Sua mãe explica então que existem apenas duas
explicações para o porquê de Blue conseguir ver o garoto: ou aquele é o seu
verdadeiro amor, ou o espirito de alguém que ela será responsável pela morte.
Veja, tem algo de muito traumático em saber que você ou vai se apaixonar por alguém
que irá morrer em um ano ou que, no mesmo espaço de tempo, você matará alguém.
Pela
sinopse, The Raven Boys passa a impressão de ser bem carregado no romance,
então deixa eu esclarecer: ele não é. A primeira coisa que todos nós ouvimos
sobre esse livro e essa série em geral é que ela tem algo de muito único na
forma que é construída. Acho também que a maioria de nós ou não sabe o que
esperar ou acha que é um exagero da parte da pessoa que resenhou/falou sobre o
livro. Eu era uma mescla dos dois quando finalmente peguei The Raven Boys para
ler.
Esse foi
um ano em que li um monte, e muitas das coisas que eu li foram similares entre
elas ou tinham uma pontinha de referência à séries mais bem sucedidas, por
assim dizer. É difícil encontrar coisas novas que fujam do padrão ou do comum.
The Raven Boys faz exatamente isso, o mais difícil. Acredite, tem algo de muito único sobre esse
livro. A história toda foi uma surpresa desde o começo.
A começar
pela escrita. Maggie Stiefvater dá a essa história um ar misterioso, sombrio e
místico. Ilusório, como se o livro, a história, esses personagens, sei lá,
tivessem todos saído de um sonho bizarro. Com a forma que ela descreve os
cenários e os personagens, é impressionante como os sentimentos pulam para fora
do livro tão avidamente quanto as imagens que ela pinta nos nossos cérebros. A
sensação é de que tem sempre alguma coisa se escondendo nas sombras.
E cara,
como tem sombras nesse livro.
Imagens
tão claras que chega uma hora você sabe que, se a Blue for para a esquerda
então ela vai sair na cozinha, mas se ela se for para a direita, então ela está
indo em direção a porta da frente. Você acaba muito familiar com a cidade, com
os cenário principais, com a paisagem, etc. Quando o narrador diz que o topo
das arvore é verde, você vê quão verde ele é. Quando o narrador conta que um
dos Raven Boys está cantando muito alto, você escuta quão alto ele está
cantando e fica incomodado.
Sem falar
que, as vezes leio uns livros em terceira pessoa que mais parece em primeira. O
propósito de usar um narrador onipresente e onisciente deveria ser para ter
mais abrangência sobre os pontos de vistas, especialmente dos personagens
secundários, certo? No entanto, tem uns autores que fazem um mal uso danado
nesse tipo de narração, e só foca no mocinho ou na mocinha da história. Não é o
caso de The Raven Boys. Maggie faz o que Sarah J. Maas faz também: distribui
tão bem as narrações entre os personagens dela que as linhas divisórias entre
quem é personagem primário e quem é secundário começa e ficar turva.
“His face was just strange enough that she wanted to keep looking at it.”
Levou um
bom tempo para que eu me familiarizasse com os personagens. Todos eles tem
aquela vibe de "você os conhece mas não os compreende". O background
deles é passado aos poucos e é também aos poucos que eles vão revelando
pedacinhos de suas personalidades. Vemos de onde eles vêm, a que tipo de lar
eles pertencem e quanto a soma destes dois fatores influência na vida deles. A
complexidade de cada um deles e a profundidade psicológica que a Maggie dá a
cada um deles é sobre-humano. Chega a ser um erro apontar personagens primários
e secundários porque cada um que integra o elenco dessa história tem uma função,
tem uma característica, um propósito.
O icônico
é que, apesar de haver uma descrição mínima da aparência dos personagens, não é
perto do suficiente para os visualizar com facilidade. Não consigo me lembrar
da cor dos olhos, dos cabelos ou da pele de cada um deles. Normalmente eu
ficaria incomodada por não conseguir imaginá-los, como se tivesse uma barreira
entre nós, mas com esse livro, pela primeira vez em muito tempo, aparência foi
a última das minhas preocupações. Estava mais curiosa e entretida com a atitude
de alguns personagens, especialmente do Gansy. O cara tem algo em torno de 17
anos (eu realmente não lembro) mas pensa, age e tem o poder que eu só
atribuiria a uma pessoa muito mais velha. Não estou dizendo que é algo ruim nem
nada. Na verdade, meio que encaixa bem com a atmosfera, mas é, sabe...
Diferente.
Também
temos Adam, o príncipe, que vem de uma família e criação abusiva; Ronan, o
cabeça quente, que vive tendo problemas com seu irmão mais velho; e Noah, o
misterioso, que, a princípio parece meio perdido entre seus amigos, mas logo se
torna claro seu papel no quarteto. Eu te desafio a não gostar de todos os Raven
Boys e a não mudar pelo menos uma vez sua opinião quanto a quem é seu
predileto. Comecei me apaixonando pelo Adam, mas não demorou muito até que
Gansy me encantasse. Até que, finalmente, Ronan roubou meu coração e minhas
teorias.
Aliás,
mais do que gostar desses meninos individualmente (e cara, se eu não adoro cada um deles), eu
os amo como um grupo. Parece que as personalidades deles se encaixam como um
quebra-cabeça lindo e complicado. Quando os quatro estão juntos, fica óbvio a
essencialidade de cada um no grupo. E quando a Blue se junta a eles?
Per-fei-ção.
“When Gansey was polite, it made him powerful. When Adam was polite, he was giving power away.”
Raramente
fico assustada ao ler livros. Inferno, raramente me assusto assistindo filmes
de terror! As vezes temo pelos personagens, como quando leio um livro sobre
bruxas ou demônios e você pensa "Ai Deus, esse cara vai morrer!".
Raven Boys tho, me fez ficar pelo menos 30 minutos extras rolando na cama
tentando esquecer o que eu tinha lido e o arrepio que percorreu pelo meu corpo.
Nunca antes tive que abaixar um livro por estar assustada! Acho que foi
consequência do quão questionável era tudo que estava acontecendo, mas não vou
ficar inventando desculpas para mim mesma. Fiquei com medinho mais de uma vez
enquanto lia no meio da noite e tive que largar o livro para lá.
É só, um livro, é só um livro, é só livro!
TRB teve
dois grandes momentos de mas
que porra é essa e donde
saiu esse negócio?! Dizer que fui pega de guarda baixa é um eufemismo.
Em ambos os casos as cenas derivaram de momentos particularmente sinistros, e
como eu disse antes, a capacidade da Maggie de pintar quadros vividos na sua
mente com as palavras é absurda. A mulher é uma fera descrevendo as cenas de
forma concisa para que não ficasse entediante, porém ainda mantendo-as ricas em
detalhes. A construção da cena, a sucessão de acontecimentos, como tudo se
conecta. Por mais que nunca em um milhão de anos eu imaginaria que aquilo fosse
acontecer, tudo fez muito sentido.
“Blue. My name's Blue Sargent.''Blair?''Blue.''Blaize?'Blue sighed. 'Jane'”
A
raridade desse livro se estende ainda mais. Geralmente livros são ou muito
fortes no quesito personagens ou muito fortes no quesito enredo, mas Raven Boys
consegue ser bem equilibrado em ambos os âmbitos, sendo talvez esse o motivo
pelo qual ele acaba sendo um livro muito universal. Ele tem um nível quase
inexistente de romance, tem um gostinho de drama adolescente, uma pitada de
problemas familiares e um monte de aventura para esses personagens.
A
mitologia também é bem original, apesar de parecer ter alguma coisa a ver com a
lenda do Rei Arthur (só uma teoria, ainda não tenho certeza se uma coisa se
liga com a outra). Obviamente temos os fantasmas e espíritos, temos as
clarividentes e médiuns, aparente temos bruxas e criaturas que ainda não tenho
certeza de como nomear. O que leva a pergunta: Que universo é esse? Quais são
os limites paranormais aqui? Qual o padrão? Normalmente esse mundo de
perguntas não respondidas me levaria a loucura, mas em The Raven Boys funciona
muito bem!
Quando
você tem um livro assim é imprescindível a necessidade de um antagonista, e nós
temos um cara louco que faz esse papel em Raven Boys. Ele é imprevisível e
aparentemente desesperado. Porém o que realmente o torna perigoso é que ele tem
pouquíssimo a perder. É bem óbvio desde o começo que o cara não é uma boa
pessoa, mas pelo menos eu não esperava que ele tivesse a capacidade de se
tornar tão obscuro.
Logo na
primeira página fui sugada para dentro do livro, apesar de não ser o mais
movimentado que você vai encontrar por ai. Haviam momentos em que não podia
fazer nada a não ser virar as páginas freneticamente, precisando saber o que
aconteceria a seguir. Porque acredite, não dá para adivinhar o que vem a
seguir. É parte da graça do livro criar um milhão de teorias e ver todas elas
desmoronarem uma a uma.
De forma
geral, The Raven Boys foi uma experiência única que eu recomendo para todo
mundo. Só fica o aviso para ler o livro com calma e paciência. Ele é quase como
um vinho velho, feito para saborear aos poucos e não pra beber tudo de uma vez.
Nós sabemos no que esse tipo de exagero resulta.
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