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31 dezembro, 2015

The Raven Boys, da Maggie Stiefvater

The Raven Cycle: The Raven Boys #1

Autor(a): Maggie Stiefvater
Editora: Schoolastic Press
Titulo no Brasil: Os Garotos Corvos
Ano: 2012
Paginas: 416
IBSN: 0545424925  
Inglês nível: A2
no goodreads e no skoob

“Fate," Blue replied, glowering at her mother, "is a very weighty word to throw around before breakfast.” 


Apesar de ser descendente de uma longa linhagem de médiuns e clarividentes residentes em Herieta, Virginia, Blue Sargent não foi "abençoada" com as habilidades que correm no sangue de sua família. Isso não quer dizer que ela não tenha talentos ela mesma. Blue é naturalmente uma fonte de energia, o que significa que quando ela está em um local onde existe algum tipo de atividade ou entidade paranormal, essas criaturas se alimentam da energia extra de Blue, o que facilita a comunicação entre clarividente e espíritos.


É por isso que todo ano Blue acompanha sua mãe até o adro de uma igreja tão abandonada que já não tem mais nome. É lá, na noite antes do dia de São Marcos, que todos os espíritos daqueles que irão morrer em um ano se reúnem. Blue nunca os vê ou os sente, isto é, até a contagem deste ano, onde o espirito de um garoto vestido com o uniforme da escola particular local, Aglionby, aparece bem embaixo do seu nariz e fala diretamente com ela.

“Aglionby Academy was the number one reason Blue had developed her two rules: One, stay away from boys because they were trouble. And two, stay away from Aglionby boys, because they were bastards.” 

Sua mãe explica então que existem apenas duas explicações para o porquê de Blue conseguir ver o garoto: ou aquele é o seu verdadeiro amor, ou o espirito de alguém que ela será responsável pela morte. Veja, tem algo de muito traumático em saber que você ou vai se apaixonar por alguém que irá morrer em um ano ou que, no mesmo espaço de tempo, você matará alguém.

Pela sinopse, The Raven Boys passa a impressão de ser bem carregado no romance, então deixa eu esclarecer: ele não é. A primeira coisa que todos nós ouvimos sobre esse livro e essa série em geral é que ela tem algo de muito único na forma que é construída. Acho também que a maioria de nós ou não sabe o que esperar ou acha que é um exagero da parte da pessoa que resenhou/falou sobre o livro. Eu era uma mescla dos dois quando finalmente peguei The Raven Boys para ler.

Esse foi um ano em que li um monte, e muitas das coisas que eu li foram similares entre elas ou tinham uma pontinha de referência à séries mais bem sucedidas, por assim dizer. É difícil encontrar coisas novas que fujam do padrão ou do comum. The Raven Boys faz exatamente isso, o mais difícil. Acredite, tem algo de muito único sobre esse livro. A história toda foi uma surpresa desde o começo.

A começar pela escrita. Maggie Stiefvater dá a essa história um ar misterioso, sombrio e místico. Ilusório, como se o livro, a história, esses personagens, sei lá, tivessem todos saído de um sonho bizarro. Com a forma que ela descreve os cenários e os personagens, é impressionante como os sentimentos pulam para fora do livro tão avidamente quanto as imagens que ela pinta nos nossos cérebros. A sensação é de que tem sempre alguma coisa se escondendo nas sombras.

E cara, como tem sombras nesse livro.

Imagens tão claras que chega uma hora você sabe que, se a Blue for para a esquerda então ela vai sair na cozinha, mas se ela se for para a direita, então ela está indo em direção a porta da frente. Você acaba muito familiar com a cidade, com os cenário principais, com a paisagem, etc. Quando o narrador diz que o topo das arvore é verde, você vê quão verde ele é. Quando o narrador conta que um dos Raven Boys está cantando muito alto, você escuta quão alto ele está cantando e fica incomodado.


Sem falar que, as vezes leio uns livros em terceira pessoa que mais parece em primeira. O propósito de usar um narrador onipresente e onisciente deveria ser para ter mais abrangência sobre os pontos de vistas, especialmente dos personagens secundários, certo? No entanto, tem uns autores que fazem um mal uso danado nesse tipo de narração, e só foca no mocinho ou na mocinha da história. Não é o caso de The Raven Boys. Maggie faz o que Sarah J. Maas faz também: distribui tão bem as narrações entre os personagens dela que as linhas divisórias entre quem é personagem primário e quem é secundário começa e ficar turva. 

“His face was just strange enough that she wanted to keep looking at it.”

Levou um bom tempo para que eu me familiarizasse com os personagens. Todos eles tem aquela vibe de "você os conhece mas não os compreende". O background deles é passado aos poucos e é também aos poucos que eles vão revelando pedacinhos de suas personalidades. Vemos de onde eles vêm, a que tipo de lar eles pertencem e quanto a soma destes dois fatores influência na vida deles. A complexidade de cada um deles e a profundidade psicológica que a Maggie dá a cada um deles é sobre-humano. Chega a ser um erro apontar personagens primários e secundários porque cada um que integra o elenco dessa história tem uma função, tem uma característica, um propósito. 

O icônico é que, apesar de haver uma descrição mínima da aparência dos personagens, não é perto do suficiente para os visualizar com facilidade. Não consigo me lembrar da cor dos olhos, dos cabelos ou da pele de cada um deles. Normalmente eu ficaria incomodada por não conseguir imaginá-los, como se tivesse uma barreira entre nós, mas com esse livro, pela primeira vez em muito tempo, aparência foi a última das minhas preocupações. Estava mais curiosa e entretida com a atitude de alguns personagens, especialmente do Gansy. O cara tem algo em torno de 17 anos (eu realmente não lembro) mas pensa, age e tem o poder que eu só atribuiria a uma pessoa muito mais velha. Não estou dizendo que é algo ruim nem nada. Na verdade, meio que encaixa bem com a atmosfera, mas é, sabe... Diferente. 

Também temos Adam, o príncipe, que vem de uma família e criação abusiva; Ronan, o cabeça quente, que vive tendo problemas com seu irmão mais velho; e Noah, o misterioso, que, a princípio parece meio perdido entre seus amigos, mas logo se torna claro seu papel no quarteto. Eu te desafio a não gostar de todos os Raven Boys e a não mudar pelo menos uma vez sua opinião quanto a quem é seu predileto. Comecei me apaixonando pelo Adam, mas não demorou muito até que Gansy me encantasse. Até que, finalmente, Ronan roubou meu coração e minhas teorias.


Aliás, mais do que gostar desses meninos individualmente (e cara, se eu não adoro cada um deles), eu os amo como um grupo. Parece que as personalidades deles se encaixam como um quebra-cabeça lindo e complicado. Quando os quatro estão juntos, fica óbvio a essencialidade de cada um no grupo. E quando a Blue se junta a eles? Per-fei-ção.

“When Gansey was polite, it made him powerful. When Adam was polite, he was giving power away.” 

Raramente fico assustada ao ler livros. Inferno, raramente me assusto assistindo filmes de terror! As vezes temo pelos personagens, como quando leio um livro sobre bruxas ou demônios e você pensa "Ai Deus, esse cara vai morrer!". Raven Boys tho, me fez ficar pelo menos 30 minutos extras rolando na cama tentando esquecer o que eu tinha lido e o arrepio que percorreu pelo meu corpo. Nunca antes tive que abaixar um livro por estar assustada! Acho que foi consequência do quão questionável era tudo que estava acontecendo, mas não vou ficar inventando desculpas para mim mesma. Fiquei com medinho mais de uma vez enquanto lia no meio da noite e tive que largar o livro para lá.

É só, um livro, é só um livro, é só livro!


TRB teve dois grandes momentos de mas que porra é essa e donde saiu esse negócio?! Dizer que fui pega de guarda baixa é um eufemismo. Em ambos os casos as cenas derivaram de momentos particularmente sinistros, e como eu disse antes, a capacidade da Maggie de pintar quadros vividos na sua mente com as palavras é absurda. A mulher é uma fera descrevendo as cenas de forma concisa para que não ficasse entediante, porém ainda mantendo-as ricas em detalhes. A construção da cena, a sucessão de acontecimentos, como tudo se conecta. Por mais que nunca em um milhão de anos eu imaginaria que aquilo fosse acontecer, tudo fez muito sentido. 

“Blue. My name's Blue Sargent.'
'Blair?'
'Blue.'
'Blaize?'
Blue sighed. 'Jane'” 

A raridade desse livro se estende ainda mais. Geralmente livros são ou muito fortes no quesito personagens ou muito fortes no quesito enredo, mas Raven Boys consegue ser bem equilibrado em ambos os âmbitos, sendo talvez esse o motivo pelo qual ele acaba sendo um livro muito universal. Ele tem um nível quase inexistente de romance, tem um gostinho de drama adolescente, uma pitada de problemas familiares e um monte de aventura para esses personagens.

A mitologia também é bem original, apesar de parecer ter alguma coisa a ver com a lenda do Rei Arthur (só uma teoria, ainda não tenho certeza se uma coisa se liga com a outra). Obviamente temos os fantasmas e espíritos, temos as clarividentes e médiuns, aparente temos bruxas e criaturas que ainda não tenho certeza de como nomear. O que leva a pergunta: Que universo é esse? Quais são os limites paranormais aqui? Qual o padrão?  Normalmente esse mundo de perguntas não respondidas me levaria a loucura, mas em The Raven Boys funciona muito bem!

Quando você tem um livro assim é imprescindível a necessidade de um antagonista, e nós temos um cara louco que faz esse papel em Raven Boys. Ele é imprevisível e aparentemente desesperado. Porém o que realmente o torna perigoso é que ele tem pouquíssimo a perder. É bem óbvio desde o começo que o cara não é uma boa pessoa, mas pelo menos eu não esperava que ele tivesse a capacidade de se tornar tão obscuro.

Logo na primeira página fui sugada para dentro do livro, apesar de não ser o mais movimentado que você vai encontrar por ai. Haviam momentos em que não podia fazer nada a não ser virar as páginas freneticamente, precisando saber o que aconteceria a seguir. Porque acredite, não dá para adivinhar o que vem a seguir. É parte da graça do livro criar um milhão de teorias e ver todas elas desmoronarem uma a uma.


De forma geral, The Raven Boys foi uma experiência única que eu recomendo para todo mundo. Só fica o aviso para ler o livro com calma e paciência. Ele é quase como um vinho velho, feito para saborear aos poucos e não pra beber tudo de uma vez. Nós sabemos no que esse tipo de exagero resulta.


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